Olá pessoal, me chamo Talita, sou médica veterinária e hoje vim conversar um pouco sobre um problema que começa junto com o calor nas propriedades rurais que trabalham com a bovinocultura, principalmente sistemas mais intensivos.
Claro que diversos assuntos se encaixariam nessa introdução, mas o problema que vamos tratar aqui é algo bem pequeno, extremamente irritante e causador de prejuízos altíssimos. Conseguem suspeitar do que estou falando¿¿ Pois então, elas, as moscas!
Junto com as estações mais quentes do ano temos um “presente de grego”, a proliferação de insetos no geral acontece com maior facilidade e entre eles, temos as moscas que acabam atrapalhando bastante a produção animal. Normalmente temos três tipos mais comuns de moscas que influenciam a atividade leiteira e∕ou produção de carne, a mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans), a mosca domestica (Musca domestica) e a mosca do chifre (Haematobia irritans). Agora você pode estar se perguntando, mas e a mosca varejeira (Dermatobia hominis) Talita¿ Não falaremos muito desta, pois a mosca varejeira não deposita seus ovos e larvas diretamente nos bovinos, ela usa outras moscas e insetos como vetores dos ovos que depois se tornarão bernes nos animais, com isso, se tivermos um bom controle das três primeiras espécies citadas, teremos bons resultados em fazendas com alta incidência de bernes.
Para entendermos um pouco mais sobre, devemos lembrar que todas as moscas possuem um ciclo de vida: ovos, larvas, pupas e adultos. Basicamente, esse ciclo pode durar de 7 até 70 dias, dependendo da espécie e das condições ambientais para que as fases avancem com rapidez ou de uma forma mais lenta. O grande desafio que temos no controle dessas pragas indesejáveis também se dá pela reprodução em escala que elas tem, uma mosca domestica adulta fêmea pode colocar até 720 ovos em 6 posturas durante a vida e pode voar até 9 km de distância. As moscas também são vetores de doenças importantes, como a leucose enzoótica bovina, a anaplasmose, o carbúnculo hemático e a mastite.
Fazendas com infestações altas de moscas perdem produtividade, pois os animais estão em estresse constante tentando espantar os insetos, diminuem suas margens de lucro e estão susceptíveis a doenças. Com isso, vale a pena destacar que o uso de ferramentas para controle são indispensáveis, dentre elas:
- Ferramentas de higiene geral: moscas precisam de matéria orgânica para depositar seus ovos, se temos a menor quantidade possível de matéria orgânica disponível, a reprodução delas também será menor;
- Controle biológico: sabemos que existem vespas e besouros que se alimentam de larvas e pupas de moscas, são alternativas interessantes porém em muitas propriedades é difícil a implantação desses controles;
- Inseticidas químicos: aqui temos diversas opções, produtos para uso pour on, pulverização para animais e instalações, brinco mosquicida e também temos alternativas de uso oral. Única ressalva que se deve ter nesses itens é o cuidado com a frequência de uso e dosagens, mal uso pode resultar em resistências e perda da eficiência.
Falando um pouco mais dos produtos químicos, em especial a propriedades que trabalham com vacas leiteiras e tem a preocupação com a questão carência no leite, temos duas alternativas interessantes para uso. A primeira delas para uso pour on é o Sarcolin, produto a base de cipermetrina, efetivo no controle de moscas no geral, especialmente mosca do chifre, e carrapatos. O tratamento de bezerros e vacas prenhes não oferece qualquer risco. Devido a sua rápida metabolização não há restrições do consumo do leite e carne após o tratamento. A segunda opção para uso oral é o Difly mosca ou Difly s3, produto à base de diflubenzuron, que deve ser adicionado a alimentação de todos os animais da fazenda. O difly age nas fezes nos animais, impedindo que ovos, larvas ou pupas evoluam para a fase adulta, também não há carência no leite e nenhuma contra indicação de uso. Pensando em controle de ambiente, deixo como sugestão o Vetomil, produto a base de metomil para ser usado via pulverização nas instalações.
No controle de moscas sempre devemos lembrar que alguns produtos agem na fase adulta, outros nas fases de ovos, larvas e pupas, outros no ambiente, então sempre é interessante que se use estratégias consorciadas para que se tenha um bom resultado. E lembrem-se, eliminar moscas totalmente em ambientes abertos é um desafio impossível, o que devemos fazer é usar das ferramentas disponíveis e tentar diminuí-las o máximo que conseguirmos.
Espero que tenham gostado do texto pessoal, dúvidas fico à disposição.
Grande abraço,
Talita Girardi Bordin.