Diversas doenças são capazes de interferir nas etapas da cadeia produtiva bovina, como por exemplo a Diarreia Bovina. Esta enfermidade possui distribuição mundial e é reconhecida como uma síndrome, visto que ocorre da interação entre fatores como a imunidade, o ambiente, a nutrição e a infecção por diferentes microorganismos com potencial patogênico, sendo que em bezerros é de maior incidência. Segundo House (1978), devido as falhas em sanidade e manejo, os distúrbios entéricos podem causar, grandes prejuízos, como maior conversão alimentar, menor ganho de peso e custos com tratamento e profilaxia, podendo alcançar 2% de mortalidade em bezerros.
A diarreia bovina é uma doença multifatorial, resultante da interação entre o bovino, ambiente, nutrição e os agentes infecciosos. A doença engloba toxinas bacterianas, inflamações induzidas por parasitas ou bactérias, atrofia de vilosidades intestinais determinadas pela ação viral ou de protozoários. Estas condições determinam uma hipersecreção intestinal e má absorção e digestão, que tem como resultado a diarreia. Devido a todos estes aspectos, é considerado uma síndrome caracterizado por alterações da função gastrintestinal, cujo sintoma principal, sendo de grandes prejuízos econômicos na atividade agropecuária, pela mortalidade provocada entre os animais afetados, pelos tratamentos frustrados, e particularmente, pela perda de peso e desenvolvimento retardado desses animais. Os principais agentes que estão envolvidos podem ser bactérias (Escherichia coli, Salmonella spp, Clostridium perfingers), vírus (coronavírus e rotavírus) ou protozoários (Cryptosporidium sp. E Eimeria spp.), podendo estes agentes causarem infecção juntos ou isolados, sendo a primeira situação de maior ocorrência.
Também estão envolvidos como causadores de diarreia transtornos nutricionais e fatores predisponentes para diarreia como: hipogamaglobulinemia, causados por deficiência em ingestão de colostro, alta lotação e método de criação; fatores meteorológicos, como alta umidade, má ventilação e acesso ao sol; qualidade de dieta e um fator que ainda é discutido por autores, o fato de vacas primiparas gerarem bezerros com hipogamaglobulinemia.
A destruição das células epiteliais do intestino favorece a perda de líquidos da corrente sanguínea para a luz intestinal por diferença de osmoralidade, assim ocorrendo a diarreia e a consequente desidratação do animal, sendo que os animais jovens tem maior porcentagem de liquido corporal e também tem maior porcentagem de liquido extracelular, sendo assim mais grave o déficit hídrico para essa categoria. Existem três mecanismos de modificação de absorção e secreção que envolvem alteração da função da mucosa do sistema digestivo. A primeira, chamada de hipersecreção passiva, é causada por fatores hemodinâmicos, inflamação ou por substancias osmótico-ativas, como lactose mal digerida, causando uma diarreia nutricional. A segunda, chamada de hipersecreção ativa, é causada por toxinas bacterianas oriundas de E. coli e Salmonella spp.. Por último, a redução da absorção e reabsorção de água e eletrólitos, normalmente causada por corona e rotavírus.
Em geral as modificações do metabolismo e do equilíbrio acido-básico são decorrentes das perdas de fluidos e eletrólitos, como íons sódio (hiponatremia), cloro (hipocloremia) e perdas, que em particular cursa com hipercalcemia. As perdas mais severas conduzem a progressiva hipovolemia e hemoconcentração. A hipoglicemia frequentemente ocorre em casos severos de diarreia, devido ao aumento do catabolismo, além de se desenvolver desvio do equilíbrio ácido-básico, com manifestação de acidose metabólica.
Salmonella sp.
O gênero Salmonella é Gram negativo, aeróbio e anaeróbio facultativo, que causa uma
ampla variedade de sinais clínicos. A identificação antigênica tem sido baseada em antígeno O (somático) ou F (flagelar). Existem mais de 2.300 sorovares diferentes que causam doença em várias espécies animais, incluindo os bovinos.
A salmonelose dos bezerros causa sérios prejuízos à bovinocultura, porque a enfermidade determina perdas devidas à mortalidade e à queda na produção. Segundo Tzipori (1985), cerca de 31,9% das infecções que afetam bezerros com diarreia em idade superior a 60 dias, podem ser atribuídas a Salmonella enteritidis, sorotipo Dublin. Ainda, segundo o mesmo autor, nos Estados Unidos da América, a incidência pode chegar a mais de 50% dos casos de diarreia em animais com até quatro semanas de vida.
A bactéria tem capacidade de permanecer por vários meses ou até anos no ambiente, sendo que animais cronicamente infectados são disseminadores constantes; roedores, pássaros e animais silvestres também podem agir como disseminadores da bactéria. A Salmonella dublin (tipo D) é adaptada aos bovinos, mas podem ocorrer surtos por cepas não adaptados como a Salmonella typhimurium (tipo B) que acometem todos os tipos de animais e é frequentemente a causa de surtos de gastroenterite em humanos por todo mundo. Nos últimos anos, ocorreu um aumento no número de notificações de espécies exóticas da Salmonella sp., como a S .angona e S. newport, provenientes, principalmente, do uso de alimentos incomuns como resíduos de peixe que são utilizados na alimentação de rebanhos leiteiros.
Em bovinos, a salmonelose manifesta-se de duas principais formas clínicas. Em animais jovens a Salmonella typhimurium é o agente etiológico predominante e causa enterite aguda que resulta em severa desidratação e alta mortalidade se não tratada. Já a Salmonella dublin é predominante em animais velhos, causando enterite, septicemia e aborto.
Os sinais clínicos Febre e diarreia são sinais típicos de S. typhimurium tipo B em rebanhos leiteiros. Em casos de Salmonella enteridis, podem ainda ser observados sangue e muco nas fezes e, em casos mais graves, há a presença de coágulos. A faixa etária mais comumente acometida é aquela entre duas semanas e dois meses, podendo ocorrer em qualquer idade. Uma grande variação da doença existe em função da virulência, dose infectante, idade do animal, status imune e existência de doença concomitante nos bezerros.
A doença em bezerros usualmente é associada com alta morbidade e variada
mortalidade. A infecção crônica acarreta em uma diarreia crônica ou intermitente, perda de peso e hipoproteinemia. A infecção aguda é de difícil diagnóstico porque a diarreia pode não ser o principal sinal, mas sim a febre, depressão e sinais respiratórios, que se manifestam com frequência. Em alguns casos, o animal pode vir ao óbito antes da ocorrência de diarreia, por uma grave desidratação por perda de líquido para a cavidade intestinal e com isso ocorre um abaulamento abdominal intenso, ocorrendo a morte por endotoxemia induzida devido a liberação de produtos da parede celular de bactérias Gram negativas.
No diagnostico independente da cepa de Salmonella, a cultura do organismo associado à história clínica confirma o diagnóstico. O laboratório para o qual é enviada a amostra de fezes deve ser confiável para gerar uma informação segura. As amostras devem ser provenientes de fezes, sangue e lavado transtraqueal. Lesões diftéricas no intestino delgado e grosso são comuns, mas podem não ocorrer. Petéquias e edema dos linfonodos mesentéricos são outro achado patológico.
No tratamento da Salmonelose é muito importante realizar a fluidoterapia e a antibioticoterapia, pois são os principais tratamentos de animais com a enfermidade. No caso de antibioticoterapia, utilizamos antimicrobianos de amplo espectro administrados por via oral, com uma associação de Sulfamerazina, Ftalilsulfatiazol, Sulfato de Neomicina e Pectina cítrica, corrigindo todos os casos de enterites, diarreia ou ‘‘cursos’’ de origem bacteriana em animais domésticos, produzidos, por Salmonella sp e Escherichia coli. Com indicação para ovinos, bovinos, caprinos e leitões. Nesse caso pode ser usado o Antidiarreico Pó Labovet[1], uma excelente opção para diarreias.
Em relação ao uso de fluídos, a recomendação é semelhante àquela para colibacilose de bezerros, sendo que a perda de Na+ e Cl- tende a ser maior que na colibacilose. Em casos de choque, o tratamento inclui o uso de predinisolona 100 mg IV ou flunixina meglumina 0,5 mg/kg, associado à fluidoterapia. É indicado o uso de antibióticos, como enrofloxacina 2,2 mg/kg BID ou sulfa-trimetoprin 2,2 mg/kg BID.
Para o controle ss práticas de manejo são importantes para a prevenção e controle da salmonelose. É necessário para o controle desta doença a realização de medidas de manejo que melhorem às condições higiênico-sanitárias do rebanho, a introdução de animais livres no rebanho é um fator importante para minimizar os riscos de se possuir uma fonte disseminadora entre os sadios. Deve-se também evitar falhas de transferência de imunidade passiva. O isolamento dos animais infectados, a limpeza e a desinfecção das instalações onde se encontram os doentes e o preparo de funcionários para evitar e saber agir frente a um surto são atitudes determinantes para a mantença da saúde do rebanho bovinos.
Para profilaxia podemos utilizar vacinas para elevar a concentração de anticorpos contra Salmonella.
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Amanda Pereira dos Santos, Mogi Mirim – SP, CRMV- SP 43683